sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Viagem do Scooby-Doo



Agora o nosso valente Scooby-Doo partiu mesmo. Estava cansado e muito doente. Nem mesmo o inventor do amor, conseguiu desinventar tudo o que sentimos por ele. Viveu até o último dia do mês de outubro de 2013. Somos muito gratos pelos momentos de extrema alegria que ele nos proporcionou. Foi amigo de todos. Gostava do Dudu, do Titi, de toda gente. Do Banzé e do Pastor. Do passarinho verde e das rolinhas. Do sabiá, dos sanhaços e dos bem-te-vis. Nos últimos tempos sentia saudades dos passeios que dava nos arredores. Ficava olhando a distância e abraçando a impossibilidade.
Vá com Deus, valente amigo!!! Se encontrares com o Bob, leve um abraço carinhoso. Vocês estarão sempre em nossa convivência, vivos, todos os dias em que nos mantivermos nesta vida.
Sabem aquela dor aguda que vocês sentiram calados, para não nos fazer sofrer. Dói demais, amigos de pelos. Agora sabemos! Vocês foram muito especiais!!! Valeu!!! 
 





Simbora


Vou-me embora pra Simbora.
Que lá ainda sei jogar bola.
Faço caminhos entre pernas e pontapés
E lanço umas voadoras
que beijam o chapéu da rede
e correm mansas como aranhas
até o rente do chão.
E arrancam  explosões da alma
De quem habita o país do gol.

Por lá ainda conheço
Uns atalhos
São trilhas das laterais
Faço corte em diagonal
Planto o terror nos contrários
E ao invés de chutar
Rolo mansinho
Pra quem vai surgir
diante do derradeiro.
É certeiro como café com pão.
Casa com a alegria
E os braços se abraçam
É o desenlace da pelota.
Que renasce logo depois.
No xadrez de peças vivas.

Vou-me embora pra Simbora.
Que lá o simples se arvora.
Onde empresto a minha arte
aos operários da bola,
que reformam a minha mocidade
e me deixam pintar,
nos campinhos de terra,
os eternos momentos de glória.


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Juras de amor


Coloque no seu cartão de visita
Estampe na camiseta
Avise a cada encontro
É proibido me amar

Por juras de matrimônio
Por culpa da sociedade
Pra não macular a imagem
Não devem sonhar comigo
Mais que pareço que sou

Por conta das amizades
Por compromisso anterior
Não escreva versos em que eu esteja
Não tome chope comigo
Não asse carnes, não vou.

Não guarde este meu sorriso
Não é cantiga de amigo...
nem fecha portas ao andor.
No confessionário não conto.
Que tudo que escrevo não juro.
Minto por intenso amor.

Amar ela


A moça amarela
De cabelos amarelos
Atravessa a ponte amarela
Vestido de baile amarelo
Na Budapest amarela
Abro a tramela
Na roda de amigos amarelos
Juro amar ela
Amar ela mais que os pêssegos
Mais que as tâmaras maduras
Mais que as tangerinas ouro
Amar ela amarela
Mais que as margaridas e os girassóis
Mais que todos os destinos amarelos.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Na casa dos outros


Não me assenhoro, senhor! O senhorio deixou cá, sua senhora, pra tocar o recebimento dos aluguéis. Eu, servo do inquilinato, não me oponho a pagar. Não sou abjeto. O que me custa é ganhar o tanto que devo e mais um resto pra sobreviver.

— Lavro ouro na penhora, mas não penduro a minha honra. Sei ordenhar. Cuido de galinha. Cato gado no arranha-gato do sertão. Mas aqui nos perdidos de ruas e no mundaréu de gente, não tenho assento em outro serviço que não seja juntar tijolos na direção das grimpas do Céu.

Portugal pequeno


Os azulejos traziam um bordado que guardavam a sua origem lusitana.

A senhora, na varanda, estendia o sotaque que herdara de Eça e Camões e agora cortava a Terra do Fogo. A moçoila cantava um fado que nos levava para os Açores e seus amores ao cair das tardes.

Os caixotes na caminhonete exalavam o cheiro de negócio importado e deitavam no gentio das cercanias, sabores de Portugal.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

É Pica


Esta aconteceu em Maricá, região metropolitana do Rio de Janeiro. A professora do ensino fundamental para crianças de cinco e seis anos, juntou suas economias e comprou tintas atóxicas, para pintar os petizes e ministrar uma aula lúdica para os guris. A intenção era criar um Maricarnaval. Uma folia fora de época, a fim de despertar nos meninos a interação do grupo a partir de brincadeiras, músicas folclóricas e cantigas de roda.
Pacientemente, ia pintando um a um, de acordo com a vontade e os sonhos da criançada. Tinha pato, cachorro, heróis dos gibis e da televisão:

— Tia, a senhora pode me pintar de Hulk?

— Não! Eu tenho pouca tinta verde.

— Pode fazer um Hulk  vermelho mesmo, eu não ligo!!!
A coisa ia acontecendo como ela previra. Os alunos estavam em êxtase absoluto. Todos muito felizes com a experiência. Valera à pena o empreendimento.

O Maricarnaval teria que se repetir todos os anos. Neste momento de reflexão se aproxima um garotinho de apenas cinco anos e entusiasmado pergunta à mestra:

— Tia, pode escrever que eu sou pica no meu corpo?

— Que isso, menino? Vou mandar uma repreensão aos seus pais. De onde você tirou esse absurdo? Não posso pintar isto, não! Pensa em uma outra coisa!!!

— Tá bom, fessora!!! Então escreva que eu sou foda mesmo, serve!...


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Neto de encomenda

O menino não gostava de ser bajulado. E seus avós haviam se deslocado do Rio de Janeiro para Manaus, só para isso. Quatro horas de voo cego sobre a floresta amazônica para ver o bicho do mato. Quebram teima com amor.

Mas o garoto não gostava do chamego dos dois. — Pára, vô! Não encha o saco!

— Duda, não trata o seu avô assim. Ele é o pai da sua mãe. Gosta muito de você!

— Não torra a paciência, vó! Por que você não volta pra casa? Vai embora!
A vovó Tita corou de vergonha. “Que pivete metido”!

— Você está me mandando embora?

— Estou vó! Pega as suas coisas e vá para o Rio!
Tita que estava de saída para o mercado, desceu os quatro andares de escada, recobrando os sentidos. Deve estar brincando. Não pode ser tão mal criado. Ele é tão bonzinho.

Ainda zonza, com os gritos do neto, zunindo na cabeça, chegou à rua. Caminhou uns passos miúdos e ouviu os berros do pequeno, vindo da varanda.

— Ah! Era tudo troça. Ele está me chamando! Deve estar arrependido com o mal feito.

— Vó! Oh, vó! Vooolta!!!... Você esqueceu a sua mala!!!
 
 

O Boneco da Floresta


Boneco da Floresta

Chegou à casa com medo dos cachorros que já estavam presos. No entanto, os latidos não lhe deixavam sossegado. Devem estar famintos. Vão querer me devorar. Conjecturava agarrado à barra da saia da avó.
— Eles mordem?

— Não vão te pegar. O portão está fechado!

— Olha o que fizeram na árvore. Cabeça e braços de baldes. É o boneco da floresta. Protege todas as plantas e os pássaros que se alimentam dos seus frutos e sementes. As aves espalham mudas de árvores e se abrigam em suas copas — contou a avó.
Filomeno, pouco mais de três anos, mirou o boneco estoico e vaticinou:

— Parece feliz!!!


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Bicho bom


— Tio, quando você vê bicho bom, o seu bilau fica duro?
Não tem coisa mais desconcertante que pergunta de menino. Dá um avesso na razão e o juízo dá um nó.
— Bem, se o bicho é bom demais, fica!

O garoto numa explosão alucinada sai em desabalada carreira, num grito só:

— Ahhhhhhh!!! Não falei, mãe. O pai é boiola!!!

Vocabulário infantil:
bilau – taco de beisebol
boiola – bola de beisebol
bicho bom – animal de estimação

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Iluminado Deus



É coisa do nosso mandatário maior. Que é quem faz e a gente pensa que fez.

Dever de casa

— Venécia, eu vou dar um pulinho na venda e você ajuda ao seu irmão, mode ele fazer a lição de casa.

— Raimundinho, tenha tino! Bota prumo pra não errar o rumo.

A vida arranja uns trecos que se você não ajeita, dá um troço. Criar filho é um desses sem jeito.

— Venécia, ajudou nas tarefas do seu irmão?

— Pude não, mãe. Eu não entendo a letra dele!

— Oxente! E você, Raimundinho, deu cabo do seu dever sozinho, abestado?

— Vou ficar a lhe dever, mainha! Eu também não entendo a minha letra!!!

Nota do editor: Aqui na 89ª publicação, inauguro uma outra vertente do meu blog. Passo a divulgar, também, microcontos. São experiências vivenciadas no seio do povo. Espero que possa colaborar com  a literatura que brota todos os dias nas ruas, lugarejos e grandes cidades brasileiras. É uma gente inventiva no contar da sua história.