sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago, o viajante do tempo

Sara, mago!
Saramago não sarou.
Pegou uma caravela, a mais bela,
e partiu para uma viagem
por mares nunca d’antes navegados.
E não era mágico de sobrenome.
Era de nome inteiro.
Das vinhas de José Saramago
vinha criação de boa cepa:
Quase um vinho pra degustação.
Embora hermético, rebuscado,
onde pareceres se misturam a conceitos,
levando os incautos leitores
para a estrutura do texto.
Em meio a letras portuguesas,
gigantescas, quase indomáveis,
vagam nas lides do intertexto.
Lutas para reconstruir o entendimento.
Penas domadas pelo mestre Saramago
que o levaram a dobrar o Cabo da Boa Esperança,
em merecimento, ao Prêmio Nobel da Literatura.
Único filho da língua de Camões, a galgar casta façanha.

E se Jesus é filho de José.
De José Saramago não é.
Este inventou um outro Deus
que vai levá-lo para um céu particular.
Onde não existem anjos nem demônios.
Estes perduram somente,
num mundo de outros Josés.

sábado, 12 de junho de 2010

Enfermeiros


A Fábio Pimentel e Pâmela que ora, colam Grau como enfermeiros e, mais tarde, pretendem juntar suas vidas.


A vida brincando de equilibrista em nossas mãos.
O acolhimento ao paciente feito por homens de gelo.
Estampado em nossas vestes.
Não necessariamente em nossas emoções.
De fio a pavio a costura no corpo.
Na mente a vontade de massagear a alma
que pulsa e quer voar ao desconhecido.
A nossa missão?
Sacramentada em juramento;
amarrá-la deste lado da existência.
E se perdemos o pulso?!
Vale a lágrima derramada.

Os mantenedores de vidas
são descobridores de caminhos
mas não conseguem abrir novas rotas.
São semeadores de esperanças
mas não colhem certezas.
Precisam de estrela
mas também trabalham com cruzes.

Enfermeiros são bombeiros
de incêndios corporais.
São anjos de um céu anunciado.
São instrumentistas
de um samba atravessado.

Sorrisos de bálsamo.
Afagos que curam.
A paciência que é novena.
A extrema-unção na contramão.

Desbravadores de veias e artérias.
Senhores da intrínseca máquina humana.
Detentores dos segredos dos milagres
São eles que abrem o agora
e fecham o depois.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A cidade que queremos

Hoje a cidade grande
amanheceu enorme.
Os crimes dos jornais
ainda pereciam nas esquinas.
Nossos heróis do povo deslizavam
em trens incertos,
tocados pelo combustível
da comida incerta,
na busca dos quereres
massificados na tevê.

Houve um baile
de música sem melodia
no templo das danças indígenas.

Na noite fria
foram vendidas
duas mil e trinta e cinco
drogas extraídas das matas dos pajés.

Princípio básico
da exploração
dos sem-remédio.

As mulheres lindas,
como se não houvesse pranto,
desfilaram suas modas do exterior,
impunemente, como se fossem “made in Brazil”.

De nossos mesmo
restaram os sonhos.
Caminhos oníricos
de um mendigo
que no canto de uma esquina
dançava o reagge.

A cidade que queremos
vai continuar amanhecendo,
todos os dias se querendo.