terça-feira, 24 de agosto de 2010

O amor está no ar

As redes sociais inauguraram
o amor eletrônico.
São informações impessoais
que convergem para uma
paixão cibernética.
A cara do teu corpo
não tem idade nem sexo.
Saudades de um tempo
em que se andava de mãos dadas.
Os beijos ficaram raros.
O frio dos encontros
esvaziou as barrigas.
Não se cora mais de vergonha.
Nem se decora poesia
para se ofertar à pessoa amada.
Os horários temperados
pelos atrasos
foram trocados
pelos orgasmos virtuais.
As flores são jardins prontos.
Muitas vezes congelados
pelos gigabytes pesados.
Gostava mais do amor
de antigamente.
Quando furtivamente havia
o enlace das mãos
no escuro do cinema.
Era bom tomar chope gelado
e beber beijo quente.
Ser lugar-tenente
no sonho do outro.
Guardar para sempre
os sonhos trocados.
Falar baixinho,
juras segredadas;
o alter ego sou eu.
Chorar a dor da separação.
Fazer da reconciliação
o troféu de não mais perder.

Quem sabe um anúncio
de jornal seja a janela
do antigamente.
Uma carta escrita ao acaso
para o endereço
de um coração nostálgico.
Uma muda de roseira.
Ninho de sabiá na goiabeira.
Um sorvete de queijo no final do Leblon.
Um violão num bar de Ipanema.
Uma esticada ao Joá.
Assistir ao amanhecer das águas.
Abrir um sorriso nas bocas fechadas.
Desejar bom dia, todos os dias.
Quem sabe, toda esta alquimia,
reabra a caixinha mágica do amor.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O dia da vida

Felizes dias tenham sido os teus.
Para que façam jus,
a este momento de luz:
a data do dia da vida.
Pelos cantos todos
que se dance tanto,
sem perder o encanto.
Se deguste a vida
doce, em pedacinhos:
brigadeiro, cajuzinho,
gamadinho e casadinho.
Os sorrisos todos,
sejam abertos aos cântaros.
Afagos e abraços,
modinhas e cânticos.
Que saúdem o hino
do teu próprio ninho;
Cantiga de amor,
cantiga de amigo.

O tempo ido e o pra se levar.
As sementes férteis.
Lavra do Jardim do Éden.
Derradeira estrela
desta vossa estrada.
Os vossos quereres
e os vossos poderes
são vossa bagagem
desta nave mãe, da vossa existência,
que ora, aporta, no porto da festa.
No entanto, já zarpa amanhã.
Vai de sonhos sobraçados pelas velas,
em busca da ilha da felicidade.

Douro-te ao dobrar
mais este marco da lida.
Dou-te de presente
toda a minha crença.
E leve a certeza
da minha amizade.
Se de nada valem.
Valem o bem querer.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Bolo de Barro

Te conto, mas não me pergunte,
como é que eu sei desta história.
A fome te engole por dentro
e tem um apetite voraz.
Te come as paredes do estômago
e toma o teu suco gástrico.
Queima as entranhas.
Apaga os sonhos.
Derruba o destino.
A fome te transforma
em homem de trapo.
Que come bolo de barro.
Engole sapo.
Toma água da chuva.
Sorri da mulher com chapéu.
Acha graça do sol e da lua.
O homem da rua não chora.
Não há desatino maior que aflore.
Não há tristeza que supere
a fome de todo dia.