Poesia extraída do canto popular. Leva o selo do movimento popular de literatura brasileira. O poeta também utiliza metáforas para homenagear o Morro do Parque da Cidade, onde viveu, e a sua gente, por quem guarda extremo carinho.
MPLB
Lá em cima daquele morro
passa boi, passa boiada.
Também passa Chico
Bento...
com a calça remendada.
Também passa bom Jesus.
A abençoar quem por lá
passa.
Passa boi, passa carneiro.
Passou meu pai, tantas
vezes.
Agora fico faceiro
pra ver meu amor passar.
Lá em cima daquele morro
Passa o violeiro
Contreiras.
Que vez por outra me manda
uma inspiração lá do Céu.
Passa a morena bonita
das terras de Pituaçu.
Passam tantos passarinhos
numa canora revoada.
E os lumes dos vagalumes
a iluminar o caminho.
Passam balanças nas costas
os meninos carregadores d’
água.
Lá vai minha mãe
lavadeira.
A trouxa de roupa na
cabeça.
Na pedra do rio e no ferro
a carvão.
Estica a lida pra ganhar o
pão.
Passa meu pai novamente
onde a saudade me leva...
até que ele suma cem
vezes,
atrás do mundo real.
Passa a rainha de França.
E o rei de Portugal.
E lá se vão poemas nos
passos.
E músicas despejadas no
ar.
Lá em cima daquele morro.
Passa boi, passa boiada.
Também passam os meus
sonhos...
Sei que um dia vão passar.
Até lá carrego no peito
este canto em oração.
No morro da minha vida...
Moram todas as Nossas Senhoras...
Detentoras dos milagres de cada dia.
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