segunda-feira, 25 de março de 2013

As casas das mulheres


A tua casa própria
há de ser bonita.
Seja terracota.
Seja verde vida.
Há de ser tão linda
como a própria lida.

Tão aconchegante
que os visitantes
se vistam de casa
ao entrarem nela.

Seja azul celeste.
Seja toda branca.
Seja amarela.
Uma aquarela...

Será resultado
de uma vida inteira.
Em seus aposentos
vão morar os sonhos
de outras conquistas.
Está na tabuleta
que é um doce lar.

As casas das mulheres
são sementes do ventre.
No leque das portas
batem renovadas
todos os santos dias.
A mostrar ao mundo
do que são capazes.

Toda mulher é uma
artista de si mesma.
Mulheres são inventoras
de outras mulheres
que habitam dentro delas
e que abraçam um cometa
pra chegarem a estrelas.

segunda-feira, 4 de março de 2013

O morro da minha vida

Poesia extraída do canto popular. Leva o selo do movimento popular de literatura brasileira. O poeta também utiliza metáforas para homenagear o Morro do Parque da Cidade, onde viveu, e a sua gente, por quem guarda extremo carinho.

MPLB

Lá em cima daquele morro
passa boi, passa boiada.
Também passa Chico Bento...
com a calça remendada.

Também passa bom Jesus.
A abençoar quem por lá passa.
Passa boi, passa carneiro.
Passou meu pai, tantas vezes.
Agora fico faceiro
pra  ver meu amor passar.

Lá em cima daquele morro
Passa o violeiro Contreiras.
Que vez por outra me manda
uma inspiração lá do Céu.

Passa a morena bonita
das terras de Pituaçu.
Passam tantos passarinhos
numa canora revoada.

E os lumes dos vagalumes
a iluminar o caminho.
Passam balanças nas costas
os meninos carregadores d’ água.

Lá vai minha mãe lavadeira.
A trouxa de roupa na cabeça.
Na pedra do rio e no ferro a carvão.
Estica a lida pra ganhar o pão.

Passa meu pai novamente
onde a saudade me leva...
até que ele suma cem vezes,
atrás do mundo real.

Passa a rainha de França.
E o rei de Portugal.
E lá se vão poemas nos passos.
E músicas despejadas no ar.

Lá em cima daquele morro.
Passa boi, passa boiada.
Também passam os meus sonhos...
Sei que um dia vão passar.

Até lá carrego no peito
este canto em oração.
No morro da minha vida...
Moram todas as Nossas Senhoras...
Detentoras dos milagres de cada dia.

                                  flavioveloso.photosheller.com