MPLB
Lá em cima daquele morro
passa boi, passa boiada.
Também passa Chico Bento...
com a calça remendada.
Também passa bom Jesus.
A abençoar quem por lá passa.
Passa boi, passa carneiro.
Passou meu pai, tantas vezes.
Agora fico faceiro
pra ver meu amor passar.
Lá em cima daquele morro
Passa o violeiro
Contreiras.Que vez por outra me manda
uma inspiração lá do Céu.
Passa a morena bonita
das terras de Pituaçu.Passam tantos passarinhos
numa canora revoada.
E os lumes dos vagalumes
a iluminar o caminho.Passam balanças nas costas
os meninos carregadores d’ água.
Lá vai minha mãe
lavadeira.
A trouxa de roupa na
cabeça.Na pedra do rio e no ferro a carvão.
Estica a lida pra ganhar o pão.
Passa meu pai novamente
onde a saudade me leva...até que ele suma cem vezes,
atrás do mundo real.
Passa a rainha de França.
E o rei de Portugal.E lá se vão poemas nos passos.
E músicas despejadas no ar.
Lá em cima daquele morro.
Passa boi, passa boiada.Também passam os meus sonhos...
Sei que um dia vão passar.
Até lá carrego no peito
este canto em oração.No morro da minha vida...
Moram todas as Nossas Senhoras...
Detentoras dos milagres de cada dia.
Está aí o poeta mexendo com suas raízes. A vida real remontada em versos. Faz folia com o lirismo popular. Este movimento, se vai pra midia, tende a crescer. Bom trabalho.
ResponderExcluirGeraldo Ferreira percorre os caminhos das suas memórias vividas, misturando, com arte, personalidades históricas e o pitoresco do cotidiano num cenário poético além de popular.Parabéns!
ResponderExcluirMuito bom. Interessante ver o uso de um cantiga como "molde" para essa poesia, que ficou muito boa. Continue sempre assim.
ResponderExcluirGeraldinho te desejo longividade, e muita sabedoria, e sempre me emocionando com poesias que fazem viajar, a tempos que nunca vão sair da minha mente, vcê é o cara. beijoos na alma.
ResponderExcluirParabéns, Geraldo. Muito linda a poesia e de extrema sensibilidade!
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