terça-feira, 28 de abril de 2009

Poemeto

Poema em homenagem à filha de um povo que luta pela liberdade e pelo bem-estar de sua gente.

Dáme la mano
rayto de sol.
Pra desbravar as brumas
das manhãs de maio.

De onde te vem os olhos?
Do povo do teu caminho.
O hino do vosso ninho.
Canção que não sei cantar.

De onde te vem os olhos?
Longe das almas mães.
Lâmpadas das mãos.
Marisol.

Que rumo te traça a vida?
O povo do teu caminho.
As naves, estradas, o trilho.
As estrelas e os espinhos.

Pra onde vai tua nau?
As bruxas, os reis, bicho-papão.
Boneca de pano, cantiga de ninar.
Menina de cinco tempos
dáme la mano
com as chaves do amanhã.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Para fazer poesia

Eu queria ser um poeta português
pra fazer verso como se fizesse pão francês,
uísque escocês,
vinho italiano.

No emprego da palavra
possuísse o poder de sedução
da mulher que dança.
A força do atleta no arranque.
Pudesse sentir a dor da árvore
no corte do machado.

Queria fazer versos
como se vivesse em Lisboa,
partindo para desbravar mares
e conquistar terras brasis,
em rotas orientais.

Produzisse versos
sabor de goiabada com queijo
e cheiro de chocolate.
Que tivessem o ritmo de samba com tango
e o gingado de um xaxado.

Conceber a poesia
com a alma
das rendeiras do Algarve,
pois elas são benzedeiras...
e acabam nos desejando o Céu.

Anseio por estrofes fortes,
encanto das raparigas,
deslumbramento dos homens pobres,
transformados em insones
senhores de botequim.

E a embriaguez
do poema
fizesse voar as garças.
Que, às vezes, são como anjos:
pousam sua majestade,
em lodo de rio morto.

Feliz aniversário

Fazer aniversário é renascer
para uma vida curta.
Inaugurar uma idade nova.
Única. Nunca realizada.
Para sempre a primeira
e a última aventura.

Desbravar o tempo
que não se repete,
é missão de somar
segundos preciosos
no placar da existência.

Adicionar açúcar ao sal.
Secar lágrimas e abrir sorrisos.
Guardar segredos.
Contar histórias.

Fazer aniversário sempre
vale a pena.
É a garantia de observar o voo
e a sonoridade dos pássaros.
As aves são anjos disfarçados
a medir a intensidade dos nossos pecados.
É a certeza de poder acompanhar
o crescimento das árvores.
Sentir na pele o calor do sol
e os pingos da chuva.
O milagre da faísca dos relâmpagos
e o estrondo dos trovões.
Ouvir o latido dos cães
a nos contar que são nossos melhores amigos.
E sonhar que a fome pode ser menor
para milhões de famintos.

Abro uma prece a mais linda princesa
e clamo bem-aventurança.
Fazer cinquenta e quatro aniversários
é um selo de garantia de sobrevivência.
Portanto, mereça os parabéns da vida,
pois ela te merece.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Para dizer que te amo

João Alberto, o teu choro inaugural
foi hino aos meus ouvidos.
Teu primeiro sorriso vazio
me encheu o coração de felicidade.
Os teus cabelos fulvos, olhos fugidios,
indefinidos no verde da mãe
e no castanho do pai.
Teu semblante carregado
na beleza materna
e teu corpo espichado,
puxado ao pater poder.

Foste encomenda de amor,
menino poesia.
Tens a força de transmitir
este sentimento.
Pedaço pequeno da nossa paixão.
Divisão humana dos nossos pés,
das nossas mãos, dos nossos corações.
Senhor supremo dos nossos destinos.
Dono das nossas vontades.
Farol da nossa razão.

João Alberto, filho da nossa alegria.
Prova concreta da nossa existência.
Identidade viva das nossas vidas.
Pequeno mundo em nosso caminho.
Batuque intenso em nosso peito.
Nossas vozes lançadas mudas,
dizendo ao outro:
Eu te amo.

João Alberto, pedaço maior de nós dois.
Te olho profundamente
nos teus olhinhos difusos
e penso como seria bom se existisses.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O Diadema de Inacinha

Este poema é uma homenagem à Alessandra Cali, a pessoa mais doce com quem tivemos oportunidade de conviver na empresa em que trabalhamos.

Pegaram o diadema de Inacinha
Que era tão pequenininha
Que chorou a jornada inteira
Mais à noite
E trinta e outros dias.

Suas madeixas na cintura
Sem tiara na cabeça
Sem ter trança
Pouco zelo
Pobrezinha da Inacinha.

Foi na calada da noite
Troça da ama
ou da vizinha.

Foi na brincadeira de roda.
Quiçá, na amarelinha.
Ou foi no banho escondido
Pelada no riachão.

Foi no galope do alazão
Ou no tranco do zebu
Talvez na poda da roça
Quem sabe no ninho da galinha?

Nem reza forte ajudou
Nem prece pra São Longuinho
Falhou o faro do cachorro
Sumiu no guizo da ventania

Foi troca de Pererê Saci
Brincadeira de duende
Encomenda de menino travesso
Esquecimento de cabeça de vento

Foi por ali
No alvoroço
Sem deixar
Nenhum vestígio
Sem que olhos
Fossem postos
Sem o calado da vítima
Que um dia três de maio
Varava uma chuva fina
que se misturou
aos prantos
da pequenina Inacinha.

Desde então
digo seu moço
Caço nas cismas do mundo
O brilho do seu olhar
A sua ternura de anjo
O seu gozo de menina.


Recebeu Menção Honrosa no 11º Concurso Literário do Servidor Público do Estado do Rio de Janeiro promovido pela FESP no ano de 2004.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A Praça

As casas abraçam a praça,
que abraça as pessoas que passam
e acolhe a História do Brasil.

Na ponta extrema,
esquerda de algum lugar,
doze elefantes vermelhos coreografam
danças de uma tribo distante.
Alados homens de língua russa
voam num balé clássico.

Na outra ponta, onde se disputa
uma devassa negra, loira
ou ruiva, geladas:
o Odeon passa um filme
norte-americano do ano passado.

No permanente palco político,
em frente à Câmara,
idealistas clamam por
posições de sonhos.

Na Biblioteca Nacional
arquiva-se tudo o que foi
escrito no país e
ninguém nunca leu.

Os pombos e a praça.
Libertas Quae Sera Tamen.
Cem anos de Theatro Municipal.
Amarelinho desde 1921.

A Rio Branco despeja
um trânsito frenético
vindo das áreas mais
pobres da cidade,
rumo às zonas mais abonadas.

Uma estátua humana aceita
alguns centavos
em troca de um movimento
e de um sorriso.
Um homem doido solta
fogo pela boca.
E um pivete de toda hora
corre afoito entre o povo
com o celular que acabou de afanar.

A praça desfila moda de todas as classes
e serve de morada para os excluídos sociais.
Um turista suíço ferve e a verve de nada lhe vale.
A Cinelândia das Belas Artes tem a nossa cara.