quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mulheres de magia


Que magia se desprende de teus pés
e faz do teu corpo, alado,
sem sair do chão?
Balanças ao ritmo
da melodia inaudível.
Copo de água no deserto.
Sede para cachoeira.
Cristalina e mineral certeza:
Sorrisos são sementes de mulher.

Onde namoras, moram os desejos.
Dormem em teus braços
os abraços inteiros.
Embalas os nascidos
e os que vão nascer.

Magas, bruxas, anjos...
De onde arrancas
a música que te sacode
na avenida sem desfile?
Em que céu serás estrela?
Em que jardim serás flor?
Em que mar serás navegação
de tantos sonhos de amor?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Toda água é benta


Se as meninas dos meus olhos
não enxergam o céu da boca,
não diria ser a sina
do malfadado agouro.
Não desinventaram ainda
as engrenagens da bela vida.

Se as meninas dos meus olhos
perderam seu brilho cristalino,
vale lacrimal não transbordou seu jorro.
Lago de tantas imagens
não trouxe à tona as tinas
das lavadeiras antigas.
Dos louvamentos e dos louva-a-deus.
Das preces cantaroladas
nas águas bentas dos riachos,
escorrendo as rezas entre as pedras.
Rios dos lava-pés, de lavar roupas,
de lavar menina-dos-olhos.
Na palma da mão, um tanto de água,
pode ser um bocado de Deus.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Bob Cão


Amava o meu Bob Cão.
Era um pastor vira-lata.
Às vezes latia em alemão.
Mas falava melhor no gestual e no olhar.
Parava ao meu pé calado
e num repente
beijava-me a boca.
Subia num vôo acrobático.
Era um pássaro de pelos.
Quantas festas nos fazia.
Uma dita matou-nos de susto.
Grudou um osso na boca.
Desfaleceu sem adeus.
Arrancada a farpa,
a morte não retrocedeu.
No entanto, no espanto,
um jato d’água lhe tirou
da letargia.
Ah! Meu Bob Cão.
O mais valente dos amigos.
Fazia plantão à porta,
na minha chegada de todo dia.

Bob já nos chegou idoso.
Sofria do coração.
Mas ao menor risco,
já se mostrava arisco
e nos defendia de corpo inteiro.

Houve outros ataques de dormência.
E houve um definitivo.
Sem querer meu sofrimento
ele escondeu a morte
atrás do meu esquecimento.
Lá ele deitou profundo
na cova ao pé do coqueiro,
pra que eu não percebesse,
a ausência de seus beijos.

Aninhada a perda,
meus olhos não mais
se encontraram.
Quase sempre ainda derramam
pela ausência do velho guerreiro.
Meu amigo de pelo e do peito;
Onde vou amarrar a minha vida?