sexta-feira, 30 de abril de 2010

André do Sapato Novo



imagem: fonte - cabecadecuia.com
Homenagem ao meu sobrinho André Lima - Seu sapato novo é o seu filho Filipe. Assim mesmo com "i".

André do sapato novo
Na boca do compositor
Não troque o passo soldado
Estufe o peito, encolhe a barriga
Estica as pernas
Abraça o mundo
Não vale olhar para trás
Ouça a corneta dos fortes
Recolhe as lágrimas
Esbanja um sorriso
Vencer é uma questão de honra
Marcha soldado
Cuidado com a Van
O vão é estreito
O tempo não é curto
O caminho é o mesmo
Será repetido em outras manhãs
Não deita nas curvas
Depois das esquinas
Moram dias, anos, toda uma vida
Filipe e Teresa são portos seguros
Lá vem o avião
Enganou o bobo
É só o lotação
Amarra o cadarço
Aperta o cinto
Disfarça o aperto
O sapato está um brilho
Lustra como o dono
Sapato de couro, do pé do sapato
Lá vai o André, elegante no passo
Caminha nas nuvens
De sapato novo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pássaros de Fogo


Ao meu sobrinho Rodolfo de Lima Correlo. Não existe horizonte que ele não possa ultrapassar.


Um pássaro criado em ninho alheio,
pode não alçar voo e não cantar.
As penas podem não ter brilho
e o seu colorido acizentar.

Mas se houver superação
e desapego às ausências,
pode, mesmo sem asas,
um pássaro voar.
E o trinar do pássaro mambembe
se transformar em encantador.

Dodo não é passarinho.
No entanto conhece bem
a história de ninhos.
Mesmo longe dos carinhos nativos.
Os recebeu em apreço da avó.
E tantos outros por empréstimo.

O bom da vida
não está à venda.
Está na conquista.
Deus concede sempre
uma segunda chance.

E lá vai o Dodo
seguir o teu caminho
de saltimbanco.
Vai crescer como o melhor homem
e incorporar valores humanitários.

Preparado para a etapa da desforra,
vai formar vida conjunta,
com a mais deusa da existência.
E com o amor apreendido
vai distribuir aos teus
os teus pedaços.
Dodo que sabe bem
a dor de um filho desgarrado,
não vai querer a tua cria
em ninho alheio.

Ontem, em voo rasante,
passou próximo à minha mangueira,
um pássaro gigante.
Parecia planar,
rodopiando no ar,
como se saltasse obstáculos.
Rente ao meu telhado
soltou o mais belo canto.
Era um pássaro desses
que bem conhecem o teu caminho.

Menino do Canaã


Ao meu sobrinho Rogrigo Zanoni. Não haverá distância que ele não possa superar.



                         
No longe de Santa Teresa.
No Vale do Canaã.
Habita um menino
cercado por colibris.

A saudade veste
preguiçosas manhãs.
Atrás de montanhas,
margaridas,  magnólias
e de vacas equilibristas,
em grandes plantações de café.

Sacro de Santa Teresa.
Onde os homens não são letrados
somente com as tintas de Portugal.
Reza aos quatro cantos,
uma cartilha com sementes da Itália.

Bravo Rodrigo, menino
com vestes da capital.
Descubra quem pintou este sol
que invade o teu dia.
E que regador tão gigante
molha o perto e o distante.

Peça emprestado,  ao Ruschi,
o maior dos beija-flores.
Cavalga céus e campinas.
Pinta e borda a tua vida.

Paira sobre o verde vale do Canaã
um irrequieto e teimoso silêncio
como se o mundo pudesse explodir
a qualquer momento,
num momesco carnaval.
É um bate bate de pilão.
Tem cheiro de café da roça
servido com pão da terra.

Domador de tormentas.
Artilheiro alvinegro.
Detentor de estrela.
Disseminador de esperanças.
Brinde-nos com os teus hojes.
Os amanhãs ainda demoram a chegar.