quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Bonita é Daniela

Bonita é Daniela
que ao nascer
recebeu de seu avô
o pomposo título
de linda e bela.
E fofa também.

Foi com sorriso de cambucá,
cheiro de abricó, nódoa de jaca e fruta-pão,
que Daniela estreou
nas trilhas das lavadeiras.
Trouxa levava as outras.
Ela conduzia um amarrado de roupas.

Bonita é Daniela
que apesar de todo o trabalho,
nunca perdeu o encanto.
Somente em dias santos:

Quando se foi um filho,
para espanto, recém-nascido.
Sem dentes, sem olhar,
sem sonhos; era um anjo.
Hijo na caixa azul.
E nos deixou em prantos.

Em outro, por ter mais história,
Foi mais marcante a despedida.
Neste partiu seu avô.
Nem houve tempo
de lhe falar,
o que se houvesse
chance, diria:
Bonita é Daniela!
Linda e bela!
E fofa também.

Desde então, ela
enterrou o brilho no chão.
No entanto, plantou
a esperança no Céu.
Abriu uma outra
filial da alegria.
Buscou agradar aos filhos que já tinha.

Daniela deu Mira à vida.
Iluminou a saudade do Pinga.
Descerrou a voz do cantante.
Foi musa pros versos da poesia.

Passantes, errantes, pastores.
Pintores, compositores, poetas.
Publicitários e estilistas...
Prestem atenção ao calado.
Um comunista não foge à lida.
Mesmo que o discurso seja outro.
O homem que repartia
o alimento na bacia,
a tantos que em torno dela
conseguissem se juntar,
decretou e não aceita emendas:
Que a partir desta data poêmica.
Em todo o reino da existência.
Fica expresso em título e prosa
O que estas estrofes fazem saber.
Entre as mais lindas e belas...
Bonita é Daniela!
Palavra de seu avô.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Caminhantes

Sou poeta do acaso.
Falo da vida à toa.
De um tempo colhi pimpolhos.
D’outros retoulhos.
Na algibeira restou-me a lida.

Da alheia
ribalta ao norte
não lhe restou folhetim.
Cavouco a insistência
para colher paciência.
Sou do azougue
a tordilha.

Alhures cacei algures.
Foi-me de Homero a Ilíade.
De Romeu a Julieta.
Da romiseta o terceiro pneu.
De 22 fui o único.

De vindo foi num chegando.
De casto cá estou moderno.
Prostrado aos pés do altíssimo.
Suplico a voz do encanto
de um canto que a tudo atinja.

Que a tinja da veste santa
que em outro tempo foi mancha:
Na Inquisição do Divino.
Açoite de alguma rima.
Que a pinte as tintas de agora.
Navegue no virtual.
Mares nunca d’antes navegado,
por nossa saudosa língua.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Tributo a Mercedes Sosa

Agradecimentos à Violeta Parra, autora dos versos de “Gracias a la vida”, que tranformou-se em ícone musical das Américas, na voz da inesquecível Mercedes Sosa.


Gracias à Mercedes,
que a vida me é tanto.
Lampiões acesos
mostram-me o caminho.
Seu cantar ecoa
em nossos destinos.
Cantante latina
que me envolve tanto.
O céu estrelado fulge o seu amor.

Gracias à Mercedes Sosa
que me envolve tanto.
Mito de la vida.
Canta noche y dia,
toda a natureza.
Brumas matutinas, ecos vespertinos.
Gracias, mi Mercedes Sosa.

Gracias a la voz da América.
Nascida Argentina.
Adotada pelo pueblo de Chile.
Cantante de los países latinos.
Amada por Chico, Caetano e Gil.

O que dá sentido às palavras aladas?
Paixão devotada a su madre,
su amigo, su hermano.
Intensidade da alma
aflorada em nome da arte.

Gracias a la vida
de Mercedes Sosa.
Caminhante eterna
das cidades, praias,
montanhas, chapadas.
Seus desertos
moram em sua rua.

Gracias a la vida
que de corazón,
me há dado tanto.
Seus olhos cerrados
já não miram frutos,
mas o seu legado
marca o nosso rumo.

Eu destaco os versos.
Encontro sorrisos,
shows intermináveis
que é o meu próprio canto.

Gracias à Mercedes Sosa
toda a nossa trilha.
Que me alegro tanto.
Que me envolvo todo.
Gracias a la vida
e todo su canto.