sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Évora

À Florbela Espanca

Dói-me n’alma, Portugal.
Uma moçoila em recordo; Évora.
De vasto sorriso, Trás-os-Montes.
Olhos d’água, por vezes castanhos.
Algumas brilhantes, outras transbordantes.

Que me dormitava
Ao regaço
De tuas pernas roliças.

E me acordava
Aos afagos
Com um belo fado de antanho.

Cabe-nos, hoje, em garatuja,
Esta lusitana herança
D’onde brota a voz cantante,
Pra expressar toda esta dor,
Que me arrebenta no peito
E me sacode além mar.

Vago taciturno pelos becos de Lisboa, Évora.
Voo ao Porto, aderno no Alentejo.
Caminho por tuas ruas ermas.
Sob o mesmo céu de violetas roxas.

Sigo-te as pernas roliças.
Abrem-te-me teus vales;
Vulva de reliquiae.
Cai um sol de abril.
Tento andar, tanto andar.

Quedo um tanto em Monte Cristo.
Crispa-me o corpo.
Tange-me a gélida aragem outonal.
Açoite da saudade
Que me espanca flor bela,
Dói-me n’alma, Portugal.


Recebeu o primeiro lugar no 12º Concurso Literário do Estado do Rio de Janeiro promovido pela FESP no ano de 2006.