quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Em Pasárgada com Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Atrás do amigo do rei.
Lá procuro Ciro da Pérsia
Pra que dê contas
do nosso poeta Bandeira.

Encontrado o domador das letras
Por cá dito primeiro Manuel.
Iremos à cata das mulheres
com caras de boneca.
E as beijaremos aos tantos,
nos cantos que cá não há.

Porquanto me calo em cinzas.
É canto de despedida.
No encontro das águas
do Negro com o Solimões.
Tenho sede.
Quedo por Iara, a mãe-d’água.
Nas barrancas do Amazonas
sonho a última vez
com alguma felicidade.

Sou a favorparente
de todas as rainhas loucas.
Perdoe-me a Joana da Espanha
Por não lhe ser contraparente.
Nem nora, pois me ignora.

Vou-me embora pra Pasárgada.
Não sou de portar Bandeiras.
Mas lá vou amar mais que tantos.
Terei camas e seguro de concepção.
Posso ligar no automático
pra qualquer civilização.

E se a tristeza bater
cá me arrebento todo,
mas dou um nó no desatino
e bebo uma cachaça de Uberaba
que carrego no embornal.
Pois vou-me embora pra Pasárgada
mas levo um tanto de Brasil.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A Nega Maluca

Menção Honrosa no 14º Concurso Literário promovido pela CEPERJ - Fundação Centro Estadual de Estatísticas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro


homenagem aos ceramistas brasileiros

A nega maluca
Pulou da caneca
Caiu no melado
Ficou doce à beça.

Com seu rebolado
Conquista quem é bamba
Menina sapeca
Levada da breca.

No berço da raça
Tem negra na graça
Tem ginga no samba
Faz luz da manhã.

Mocinha dengosa
Da praia das rosas
De todo cheirosa
Faz gosto te olhar.

Neguinha bem feita
Da bunda empinada
Balança em bordado
O teu caminhar.

A nega florida
De laços de fitas
Cabelo de chita
Tem made in Brazil.

Minha nega maluca,
qual deus te criou,
com a liga do barro
das Minas Gerais,
de Nosso Senhor?!

Te guardo com arte.
Te pinto.
Te quero.
Te fiz um bolero
pra te decorar.

Te amo cozida, assada, querida
Te faço só minha.
Te cubro de amor.

Cunhada obra-prima
no domo da arte.
Sacodes moringa
Me matas a sede.
Me secas de amor.

Neguinha da mata.
Das Dores, das Graças.
Mulata guerreira
nos rumos da fé.

Sincera!
Singela!
Tão meiga!
Tão bela!

Oh! Nega mais doida!
Que mora em Paris.
Visita Istambul.
Está em Moscou.
Conhece Lisboa.
É cabra da peste
lá em Budapest.

Às noites é gris.
Vermelho-estrada.
Tardes, furta-cor.
Nos sonhos azuis:
Enfeita o meu aparador...


                                                           Foto: Fátima Pimentel

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Melissa, o seu retrato

Melissa é estudante de Educação Física e minha sobrinha. Hoje é gente. Mas nasceu flor!


Melissa é flor, Melissa é gente.
Erva cidreira verdadeira.
Encantadora guerreira.
Melissa romana ou chá da França?
Garota carioca ou bálsamo da serra?
Melissa é doce!
Melissa é mel!
São poesias de simplicidade!
Extrai diamantes de sementes de romã.

Transforma as lutas mais difíceis,
nas vitórias mais fáceis.
Nunca chora.
Tem medo que pingue ouro
de seus olhos.
Prefere a zanga
ou um sorriso pela metade,
quando algo não lhe agrade.

Melissa é remédio que acalma.
São flores que surgem
brancas ou amareladas.
Com o passar do tempo,
podem ser rosadas.
Arbusto de verde intenso
nas extremidades
e verde claro na base.

Melissa é remédio que acalma.
São risos que surgem brancos
E sorrisos cheios de bondade.
Com o passar do tempo,
são ternos e esperançosos.
Menina de vigor intenso
nas extremas horas.
De derramar à base
por injustiças máximas.

Como todo brasileiro
não existe distância
que não vença
nem horizonte
que não ultrapasse.

Melissa é extrato da paz.
É chá de tranquilidade.
É pouco para a saciedade
e muito para a fome intensa.
Melissa é flor e é gente.
É doce de mel.
São versos mágicos
de Graça Carpes.
Tem poema que é o seu retrato.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mulheres de magia


Que magia se desprende de teus pés
e faz do teu corpo, alado,
sem sair do chão?
Balanças ao ritmo
da melodia inaudível.
Copo de água no deserto.
Sede para cachoeira.
Cristalina e mineral certeza:
Sorrisos são sementes de mulher.

Onde namoras, moram os desejos.
Dormem em teus braços
os abraços inteiros.
Embalas os nascidos
e os que vão nascer.

Magas, bruxas, anjos...
De onde arrancas
a música que te sacode
na avenida sem desfile?
Em que céu serás estrela?
Em que jardim serás flor?
Em que mar serás navegação
de tantos sonhos de amor?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Toda água é benta


Se as meninas dos meus olhos
não enxergam o céu da boca,
não diria ser a sina
do malfadado agouro.
Não desinventaram ainda
as engrenagens da bela vida.

Se as meninas dos meus olhos
perderam seu brilho cristalino,
vale lacrimal não transbordou seu jorro.
Lago de tantas imagens
não trouxe à tona as tinas
das lavadeiras antigas.
Dos louvamentos e dos louva-a-deus.
Das preces cantaroladas
nas águas bentas dos riachos,
escorrendo as rezas entre as pedras.
Rios dos lava-pés, de lavar roupas,
de lavar menina-dos-olhos.
Na palma da mão, um tanto de água,
pode ser um bocado de Deus.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Bob Cão


Amava o meu Bob Cão.
Era um pastor vira-lata.
Às vezes latia em alemão.
Mas falava melhor no gestual e no olhar.
Parava ao meu pé calado
e num repente
beijava-me a boca.
Subia num vôo acrobático.
Era um pássaro de pelos.
Quantas festas nos fazia.
Uma dita matou-nos de susto.
Grudou um osso na boca.
Desfaleceu sem adeus.
Arrancada a farpa,
a morte não retrocedeu.
No entanto, no espanto,
um jato d’água lhe tirou
da letargia.
Ah! Meu Bob Cão.
O mais valente dos amigos.
Fazia plantão à porta,
na minha chegada de todo dia.

Bob já nos chegou idoso.
Sofria do coração.
Mas ao menor risco,
já se mostrava arisco
e nos defendia de corpo inteiro.

Houve outros ataques de dormência.
E houve um definitivo.
Sem querer meu sofrimento
ele escondeu a morte
atrás do meu esquecimento.
Lá ele deitou profundo
na cova ao pé do coqueiro,
pra que eu não percebesse,
a ausência de seus beijos.

Aninhada a perda,
meus olhos não mais
se encontraram.
Quase sempre ainda derramam
pela ausência do velho guerreiro.
Meu amigo de pelo e do peito;
Onde vou amarrar a minha vida?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O amor está no ar

As redes sociais inauguraram
o amor eletrônico.
São informações impessoais
que convergem para uma
paixão cibernética.
A cara do teu corpo
não tem idade nem sexo.
Saudades de um tempo
em que se andava de mãos dadas.
Os beijos ficaram raros.
O frio dos encontros
esvaziou as barrigas.
Não se cora mais de vergonha.
Nem se decora poesia
para se ofertar à pessoa amada.
Os horários temperados
pelos atrasos
foram trocados
pelos orgasmos virtuais.
As flores são jardins prontos.
Muitas vezes congelados
pelos gigabytes pesados.
Gostava mais do amor
de antigamente.
Quando furtivamente havia
o enlace das mãos
no escuro do cinema.
Era bom tomar chope gelado
e beber beijo quente.
Ser lugar-tenente
no sonho do outro.
Guardar para sempre
os sonhos trocados.
Falar baixinho,
juras segredadas;
o alter ego sou eu.
Chorar a dor da separação.
Fazer da reconciliação
o troféu de não mais perder.

Quem sabe um anúncio
de jornal seja a janela
do antigamente.
Uma carta escrita ao acaso
para o endereço
de um coração nostálgico.
Uma muda de roseira.
Ninho de sabiá na goiabeira.
Um sorvete de queijo no final do Leblon.
Um violão num bar de Ipanema.
Uma esticada ao Joá.
Assistir ao amanhecer das águas.
Abrir um sorriso nas bocas fechadas.
Desejar bom dia, todos os dias.
Quem sabe, toda esta alquimia,
reabra a caixinha mágica do amor.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O dia da vida

Felizes dias tenham sido os teus.
Para que façam jus,
a este momento de luz:
a data do dia da vida.
Pelos cantos todos
que se dance tanto,
sem perder o encanto.
Se deguste a vida
doce, em pedacinhos:
brigadeiro, cajuzinho,
gamadinho e casadinho.
Os sorrisos todos,
sejam abertos aos cântaros.
Afagos e abraços,
modinhas e cânticos.
Que saúdem o hino
do teu próprio ninho;
Cantiga de amor,
cantiga de amigo.

O tempo ido e o pra se levar.
As sementes férteis.
Lavra do Jardim do Éden.
Derradeira estrela
desta vossa estrada.
Os vossos quereres
e os vossos poderes
são vossa bagagem
desta nave mãe, da vossa existência,
que ora, aporta, no porto da festa.
No entanto, já zarpa amanhã.
Vai de sonhos sobraçados pelas velas,
em busca da ilha da felicidade.

Douro-te ao dobrar
mais este marco da lida.
Dou-te de presente
toda a minha crença.
E leve a certeza
da minha amizade.
Se de nada valem.
Valem o bem querer.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Bolo de Barro

Te conto, mas não me pergunte,
como é que eu sei desta história.
A fome te engole por dentro
e tem um apetite voraz.
Te come as paredes do estômago
e toma o teu suco gástrico.
Queima as entranhas.
Apaga os sonhos.
Derruba o destino.
A fome te transforma
em homem de trapo.
Que come bolo de barro.
Engole sapo.
Toma água da chuva.
Sorri da mulher com chapéu.
Acha graça do sol e da lua.
O homem da rua não chora.
Não há desatino maior que aflore.
Não há tristeza que supere
a fome de todo dia.

terça-feira, 13 de julho de 2010

O Elefante

O elefante no telhado
transformou aquela manhã de maio.
Não era um homem armado
nem uma mulher amada.
Era mesmo um paquiderme enorme.
As telhas intactas mantinham o imaginário da multidão
que se aglomerava para assistir
ao inusitado do elefante voador.
O guarda, a ambulância, o bombeiro.
O Ministério Público apresenta denúncias
do desmatamento das florestas.
Mazela que expulsa de seus habitats,
os animais acuados, para as cidades invasoras.
Consertar um telhado, depois do estrago do passo do elefante,
ainda é mais rápido que refazer os tetos das árvores;
Recuperar os mananciais das águas;
Reconstruir os ninhos dos passarinhos;
Quantos elefantes serão necessários
para derrubar as nossas cercas,
pisar em nossos jardins,
subir em nossos telhados...
para que tomemos a atitude de repensar o mundo?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago, o viajante do tempo

Sara, mago!
Saramago não sarou.
Pegou uma caravela, a mais bela,
e partiu para uma viagem
por mares nunca d’antes navegados.
E não era mágico de sobrenome.
Era de nome inteiro.
Das vinhas de José Saramago
vinha criação de boa cepa:
Quase um vinho pra degustação.
Embora hermético, rebuscado,
onde pareceres se misturam a conceitos,
levando os incautos leitores
para a estrutura do texto.
Em meio a letras portuguesas,
gigantescas, quase indomáveis,
vagam nas lides do intertexto.
Lutas para reconstruir o entendimento.
Penas domadas pelo mestre Saramago
que o levaram a dobrar o Cabo da Boa Esperança,
em merecimento, ao Prêmio Nobel da Literatura.
Único filho da língua de Camões, a galgar casta façanha.

E se Jesus é filho de José.
De José Saramago não é.
Este inventou um outro Deus
que vai levá-lo para um céu particular.
Onde não existem anjos nem demônios.
Estes perduram somente,
num mundo de outros Josés.

sábado, 12 de junho de 2010

Enfermeiros


A Fábio Pimentel e Pâmela que ora, colam Grau como enfermeiros e, mais tarde, pretendem juntar suas vidas.


A vida brincando de equilibrista em nossas mãos.
O acolhimento ao paciente feito por homens de gelo.
Estampado em nossas vestes.
Não necessariamente em nossas emoções.
De fio a pavio a costura no corpo.
Na mente a vontade de massagear a alma
que pulsa e quer voar ao desconhecido.
A nossa missão?
Sacramentada em juramento;
amarrá-la deste lado da existência.
E se perdemos o pulso?!
Vale a lágrima derramada.

Os mantenedores de vidas
são descobridores de caminhos
mas não conseguem abrir novas rotas.
São semeadores de esperanças
mas não colhem certezas.
Precisam de estrela
mas também trabalham com cruzes.

Enfermeiros são bombeiros
de incêndios corporais.
São anjos de um céu anunciado.
São instrumentistas
de um samba atravessado.

Sorrisos de bálsamo.
Afagos que curam.
A paciência que é novena.
A extrema-unção na contramão.

Desbravadores de veias e artérias.
Senhores da intrínseca máquina humana.
Detentores dos segredos dos milagres
São eles que abrem o agora
e fecham o depois.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A cidade que queremos

Hoje a cidade grande
amanheceu enorme.
Os crimes dos jornais
ainda pereciam nas esquinas.
Nossos heróis do povo deslizavam
em trens incertos,
tocados pelo combustível
da comida incerta,
na busca dos quereres
massificados na tevê.

Houve um baile
de música sem melodia
no templo das danças indígenas.

Na noite fria
foram vendidas
duas mil e trinta e cinco
drogas extraídas das matas dos pajés.

Princípio básico
da exploração
dos sem-remédio.

As mulheres lindas,
como se não houvesse pranto,
desfilaram suas modas do exterior,
impunemente, como se fossem “made in Brazil”.

De nossos mesmo
restaram os sonhos.
Caminhos oníricos
de um mendigo
que no canto de uma esquina
dançava o reagge.

A cidade que queremos
vai continuar amanhecendo,
todos os dias se querendo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O voo de Graça Carpes


Ventanias derramam versos no chão da floresta.
Cambucá, abricó, açaí, jabuticaba, jamelão.
Um sabiá graça na busca de uma fruta-pão.
Carpes do ninho a amamentar.
Ave! Passarinho.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

André do Sapato Novo



imagem: fonte - cabecadecuia.com
Homenagem ao meu sobrinho André Lima - Seu sapato novo é o seu filho Filipe. Assim mesmo com "i".

André do sapato novo
Na boca do compositor
Não troque o passo soldado
Estufe o peito, encolhe a barriga
Estica as pernas
Abraça o mundo
Não vale olhar para trás
Ouça a corneta dos fortes
Recolhe as lágrimas
Esbanja um sorriso
Vencer é uma questão de honra
Marcha soldado
Cuidado com a Van
O vão é estreito
O tempo não é curto
O caminho é o mesmo
Será repetido em outras manhãs
Não deita nas curvas
Depois das esquinas
Moram dias, anos, toda uma vida
Filipe e Teresa são portos seguros
Lá vem o avião
Enganou o bobo
É só o lotação
Amarra o cadarço
Aperta o cinto
Disfarça o aperto
O sapato está um brilho
Lustra como o dono
Sapato de couro, do pé do sapato
Lá vai o André, elegante no passo
Caminha nas nuvens
De sapato novo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pássaros de Fogo


Ao meu sobrinho Rodolfo de Lima Correlo. Não existe horizonte que ele não possa ultrapassar.


Um pássaro criado em ninho alheio,
pode não alçar voo e não cantar.
As penas podem não ter brilho
e o seu colorido acizentar.

Mas se houver superação
e desapego às ausências,
pode, mesmo sem asas,
um pássaro voar.
E o trinar do pássaro mambembe
se transformar em encantador.

Dodo não é passarinho.
No entanto conhece bem
a história de ninhos.
Mesmo longe dos carinhos nativos.
Os recebeu em apreço da avó.
E tantos outros por empréstimo.

O bom da vida
não está à venda.
Está na conquista.
Deus concede sempre
uma segunda chance.

E lá vai o Dodo
seguir o teu caminho
de saltimbanco.
Vai crescer como o melhor homem
e incorporar valores humanitários.

Preparado para a etapa da desforra,
vai formar vida conjunta,
com a mais deusa da existência.
E com o amor apreendido
vai distribuir aos teus
os teus pedaços.
Dodo que sabe bem
a dor de um filho desgarrado,
não vai querer a tua cria
em ninho alheio.

Ontem, em voo rasante,
passou próximo à minha mangueira,
um pássaro gigante.
Parecia planar,
rodopiando no ar,
como se saltasse obstáculos.
Rente ao meu telhado
soltou o mais belo canto.
Era um pássaro desses
que bem conhecem o teu caminho.

Menino do Canaã


Ao meu sobrinho Rogrigo Zanoni. Não haverá distância que ele não possa superar.



                         
No longe de Santa Teresa.
No Vale do Canaã.
Habita um menino
cercado por colibris.

A saudade veste
preguiçosas manhãs.
Atrás de montanhas,
margaridas,  magnólias
e de vacas equilibristas,
em grandes plantações de café.

Sacro de Santa Teresa.
Onde os homens não são letrados
somente com as tintas de Portugal.
Reza aos quatro cantos,
uma cartilha com sementes da Itália.

Bravo Rodrigo, menino
com vestes da capital.
Descubra quem pintou este sol
que invade o teu dia.
E que regador tão gigante
molha o perto e o distante.

Peça emprestado,  ao Ruschi,
o maior dos beija-flores.
Cavalga céus e campinas.
Pinta e borda a tua vida.

Paira sobre o verde vale do Canaã
um irrequieto e teimoso silêncio
como se o mundo pudesse explodir
a qualquer momento,
num momesco carnaval.
É um bate bate de pilão.
Tem cheiro de café da roça
servido com pão da terra.

Domador de tormentas.
Artilheiro alvinegro.
Detentor de estrela.
Disseminador de esperanças.
Brinde-nos com os teus hojes.
Os amanhãs ainda demoram a chegar.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Mulheres Guerreiras


Não pode a mulher que acorda às seis
a fim de preparar o café e o almoço ao mesmo tempo,
arrumar as crianças para a escola,
passar as roupas e ajeitar o quarto,
ainda distribuir um sorriso de bom dia?!
Não pode?
Sim, pode!

Não pode a mulher que pega ônibus cheio;
Que chega atropelando o atraso;
Que coloca uniforme de empregada;
Que bate ponto na máquina enferrujada;
Ainda vender muitos milhões para o patrão?
Não pode?
Sim, pode!

E pode sacolejar na condução de volta?
Tomar o banho na hora da Ave Maria.
Se refrescar com água de colônia,
pra dividir fragrância e elegância,
depois de aprontar o jantar?!

Deitar travestida de Vênus.
Pronta pra amar.
Beijar, acariciar e se não puder
chegar ao orgasmo, fingir,
pra não desagradar.
Não pode?
Sim, pode!

Mulheres guerreiras, tão lindas, faceiras!
Mulheres que choram pra abrandar a dor.
Mulheres que riem pra alegrar o ambiente.
Mulheres que nada sentem o que dói em sentir.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A bailarina




À Patrícia Cal,

Espero que a bailarina lhe traga toda a sorte do mundo e junto ao seu talento, venham o sucesso e o reconhecimento.

Geraldo Ferreira



Não pode a bailarina bailar
sem o som da cantante,
sem a evolução dos acordes.

Não pode a PatCal
acordar seu público
sem o dom emblemático
do metal.

A música é a mola dos pés.
A voz ressoa na memória
e toca os sinos da veleidade.
Fantasia alada
das asas reais do artista.

Rodopia, pião humano.
Mulher de lata, estilizada.
Como podes parada, voar?
Doce bailarina, troféu de metal.
Caixa de sorte, talismã!

Todos os sons te encantarão.
Valor do timbre desta voz metálica.
Em que ária vais emudecer quem a ouve?
Cantante das Américas,
em quantas praças estarás,
na Hora do Brasil?

Maga bailarina, lhe empresta
tua estrela e o teu brilho solar.
Desfila no salão o teu bailado.
Enfeita a estrada da Patrícia.

O Pat Show
já vai começar.
Gira, bailarina,
que a luz da vida
cabe em nossas mãos.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Mulheres de Luz


As mulheres voltaram às ruas.
Lindas, esvoaçantes, cortantes.
Cruzaram as avenidas como bailarinas.
Livres dos uniformes do povo dominante.
Substituíram o blue jeans
por vistosos vestidos florais.
Azuis, vermelhos e amarelos.
Tingiram de moreno, silhuetas esbeltas.
Cobriram mulatas de algodão bordado.
Recriaram o Brasil feminino.
Sorrisos nos rostos, rebolados nos quadris, graças gestuais.
Saias girantes a embalar o balouçante corpo de mulher.
Visão colorida da memória carnavalesca,
Levando o enredo a mais bonita entre as belas.

Tomam a Rio Branco.
Invadem o Paço.
Rumam à Praça XV,
à Estação das Barcas.
Navegam resolutas,
Sonham com filhos,casas, moda,
automóveis e homens, nesta ordem.
Tudo que cala fundo na mulher.
No largo do Araribóia,
fazem o ritual da pajelança.
Em frêmito,
rodam a dança dos índios.
Estão em guerra.

Que venham vestidas com arte.
Viventes supremas.
Amantes maiores.
Em trajes de combate.
Senhoras de todos.
Rainhas e princesas.
Devassas e submissas.
Musas e deusas.
Carregam cordões
de eternos apaixonados.
Mulheres que tiram o sono.
Mulheres que fazem sonhar.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Júlia Brasileira


À Júlia Leão Pimentel:
Desejamos que o seu aniversário tenha sido o melhor do mundo.




Júlia é nova e inova
Vai se formar na capital do Velho Mundo
Às margens do rio Tâmisa

Júlia sabe contar até um milhão em inglês.
Se quiser conta em francês.
Mas não conta pra ninguém
que sabe contar de perder a conta.

Júlia brasileira
vai fazer Letras na terra da rainha.
Dividirá estantes
com Shakespeare e J.K. Rowling.
Passear com Harry Porter na Green Street
e desvendar mistérios com Sherlock Holmes.

E se a vida lhe der um chato.
Dê pra ele um gato.
Um gato tem sete vidas.
E ele vai se perder a tomar conta
das vidas do gato.

Cuida só das letras.
Lembra de birosca,
de favela e de novela.

Fruta-pão e abricó.
Jaca, tamarindo, graviola,
açaí, camu-camu e cupuaçu.
Buriti, taperebá, tucumã e guaraná.

Saci Pererê, Iara,
caipora, curupira,
boi bumbá e boitatá
No galope da mula-sem-cabeça,
botando fogo pelas ventas,
em noite de lua-cheia.

Júlia brasileira,
desde então, só pra marcar a origem.
Pois eis que a lida, depois da mistura das letras,
feito sopa quente no frio,
será Júlia do mundo inteiro.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Aniversário da pequena guerreira


A nossa homenagem pelo aniversário de Adriana Mesquita Gonçalves, amiga que guardamos com carinho e respeito.

A sua petit capela
amanheceu engalanada.
A procissão dos próceres
tomou a rua principal,
e com bandeiras amarelas,
saudou a data tão esperada
pelos seus pequenos.
Nossa Senhora correu
o Largo da Memória
no andor carregado
pelos meninos de louça e de fibra.
O relógio da torre badalou baixinho
as doze horas marcadas.
O pássaro de plástico acompanhou
o cântico metálico.
Processos determinam
todos os caminhos construtivos
e aguardam o retorno da Deusa dos destinos.

Tantos braços se abriram
pra te enlaçar num abraço.
Tantos sorrisos se guardaram
pra serem entregues mais tarde.
Tantas lágrimas saudosas
lavaram rostos sem graça.
Tantos copos de refrigerantes americanos
borbulharam sem bocas abertas.

Adriana Mesquita, guerreira do bom combate,
erga mais este estandarte.
E sempre com a mesma fidalguia,
diga a todos que Jesus está em Natal
para comemorar mais esse aniversário
que marca o tempo de um tantinho assim.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O vazio do papel



O vazio do papel
me convida a entrar.
Posso rabiscar garatujas
e desenhar garranchos.
Saber que o papel é o laço
de catar histórias.
Conte quem contar,
eis o primeiro passo.
Quero engatinhar
pelos cantos brancos
e colorir algumas arestas
que me interessem.
Posso levantar, correr
e desfraldar bandeiras brancas.
Invisíveis ícones
das entranhas do papel.
São entrelinhas do segredo.
Rolo em sua gramatura
sem espaço pra gramática.
Não sou das letras.
Sou afeito aos pinceis.
Arrisco um risco.
A obra brota como germina a semente.
Ninguém ousou pintar ainda
do seu interior.
Parece mágica.
Não vejo a arte
mas sei que a concebo
a olhos alheios.
Será bonita?
Pinturas são lindas como as mulheres:
Mulheres são pinturas vivas.
Serão verdades?
Estar nesta espessura tênue
e no entanto ter o tamanho
do mundo inteiro para passear.
Quero vagar a vadiar como fez Chaplin.
Tocar Noturno de Chopin ao amanhecer.
Abrir as vinte e uma sinfonias
em Mi bemol maior,
que Dó é pena de fechar.
Sonhar os sonhos bons
nos balões dos gibis.
Amar o mar da cor que desejar.
Voar nas asas altas da Panair.
Ler Budapest.
Ir a Stambul.
Comprar Gillet.
Ter a noção exata
quando se está fora do papel.