quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Júlia Brasileira


À Júlia Leão Pimentel:
Desejamos que o seu aniversário tenha sido o melhor do mundo.




Júlia é nova e inova
Vai se formar na capital do Velho Mundo
Às margens do rio Tâmisa

Júlia sabe contar até um milhão em inglês.
Se quiser conta em francês.
Mas não conta pra ninguém
que sabe contar de perder a conta.

Júlia brasileira
vai fazer Letras na terra da rainha.
Dividirá estantes
com Shakespeare e J.K. Rowling.
Passear com Harry Porter na Green Street
e desvendar mistérios com Sherlock Holmes.

E se a vida lhe der um chato.
Dê pra ele um gato.
Um gato tem sete vidas.
E ele vai se perder a tomar conta
das vidas do gato.

Cuida só das letras.
Lembra de birosca,
de favela e de novela.

Fruta-pão e abricó.
Jaca, tamarindo, graviola,
açaí, camu-camu e cupuaçu.
Buriti, taperebá, tucumã e guaraná.

Saci Pererê, Iara,
caipora, curupira,
boi bumbá e boitatá
No galope da mula-sem-cabeça,
botando fogo pelas ventas,
em noite de lua-cheia.

Júlia brasileira,
desde então, só pra marcar a origem.
Pois eis que a lida, depois da mistura das letras,
feito sopa quente no frio,
será Júlia do mundo inteiro.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Aniversário da pequena guerreira


A nossa homenagem pelo aniversário de Adriana Mesquita Gonçalves, amiga que guardamos com carinho e respeito.

A sua petit capela
amanheceu engalanada.
A procissão dos próceres
tomou a rua principal,
e com bandeiras amarelas,
saudou a data tão esperada
pelos seus pequenos.
Nossa Senhora correu
o Largo da Memória
no andor carregado
pelos meninos de louça e de fibra.
O relógio da torre badalou baixinho
as doze horas marcadas.
O pássaro de plástico acompanhou
o cântico metálico.
Processos determinam
todos os caminhos construtivos
e aguardam o retorno da Deusa dos destinos.

Tantos braços se abriram
pra te enlaçar num abraço.
Tantos sorrisos se guardaram
pra serem entregues mais tarde.
Tantas lágrimas saudosas
lavaram rostos sem graça.
Tantos copos de refrigerantes americanos
borbulharam sem bocas abertas.

Adriana Mesquita, guerreira do bom combate,
erga mais este estandarte.
E sempre com a mesma fidalguia,
diga a todos que Jesus está em Natal
para comemorar mais esse aniversário
que marca o tempo de um tantinho assim.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O vazio do papel



O vazio do papel
me convida a entrar.
Posso rabiscar garatujas
e desenhar garranchos.
Saber que o papel é o laço
de catar histórias.
Conte quem contar,
eis o primeiro passo.
Quero engatinhar
pelos cantos brancos
e colorir algumas arestas
que me interessem.
Posso levantar, correr
e desfraldar bandeiras brancas.
Invisíveis ícones
das entranhas do papel.
São entrelinhas do segredo.
Rolo em sua gramatura
sem espaço pra gramática.
Não sou das letras.
Sou afeito aos pinceis.
Arrisco um risco.
A obra brota como germina a semente.
Ninguém ousou pintar ainda
do seu interior.
Parece mágica.
Não vejo a arte
mas sei que a concebo
a olhos alheios.
Será bonita?
Pinturas são lindas como as mulheres:
Mulheres são pinturas vivas.
Serão verdades?
Estar nesta espessura tênue
e no entanto ter o tamanho
do mundo inteiro para passear.
Quero vagar a vadiar como fez Chaplin.
Tocar Noturno de Chopin ao amanhecer.
Abrir as vinte e uma sinfonias
em Mi bemol maior,
que Dó é pena de fechar.
Sonhar os sonhos bons
nos balões dos gibis.
Amar o mar da cor que desejar.
Voar nas asas altas da Panair.
Ler Budapest.
Ir a Stambul.
Comprar Gillet.
Ter a noção exata
quando se está fora do papel.