quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Fátima Princesa

Eu quero te pintar de azul.
Cabelos carmim – lábios de cetim.
Olhos esmeraldas como lhe convém.

Outra opção seria o verde.
Tudo bem tingido.
Verde água pleno
pra matar-me a sede de você.

E se fosse prata?
Com os aros ouro.
As madeixas deixas como são.
Teus afagos seriam
abraços de Midas.
E as minhas saudades
pesadas no ourives.

Logo viriam os tintistas
com protestos tantos,
a manchar as cores
dos teus reinos ouro, prata,
verde água e do mais puro azul.

No entanto,
como quero tanto
teu reinado santo,
vou pintá-la, sim,
na mais furta-cor
que é o tom dos anjos.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A velha e a praça II

A velha e a praça
se contorcem
na contracapa
da velha revista
O Cruzeiro

Deitam-se imagens
no fosfalhar
do vento cineasta
que recria o desenho
animado e o cinema.

A velha tridimensional
baba nas estrelas.
Dente porcelanizado.
Corpo de brilho passado.

Momento eternizado
na capa da velha revista
O Cruzeiro.

Miss Brasil 58.
Estrela do Botafogo.
Adalgisa Colombo,
a mais perfeita,
a caminho das Américas.
Envolta num maiô Catalina.
Uma beleza Helena Rubenstein.

A velha agora torce.
Bandeira desfraldada
de um clube esmaecido
nas folhas amareladas.
Memórias rotas
do país do futebol.

Um país inteiro
desce pela direita.
E freia e ruma outra
vez pelo mesmo atalho.
Entorta pra esquerda
como se fosse voltar.
Namora a linha de fundo
e cria um caminho improvável.
Uma camisa de estrela é perseguida,
puxada, agarrada, rasgada.
O que veste a sete,
achou espaço entre pernas e dez
centímetros de gramado.
A velha ri como a adivinhar
o destino da bola que sai dos pés
de Mané Garrincha.

A velha e a praça
trocam a manchete
em noite comovente.
Vagam vazias, sem almas.
São espectros de um tempo
em que a praça era palco
dos sonhos da velha.

A velha estende a mão
e puxa para si o cobertor.
Histórias de outras vidas,
páginas encardidas
da velha revista
O Cruzeiro.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A velha e a praça

A velha e a praça
se contorcem
na contracapa
de antigos jornais
e revisitadas revistas.

Deitam-se imagens
no fosfalhar
do vento cineasta.
Um filme de antigamente
nasce ao sabor da brisa.

A velha tridimensional
baba nas estrelas.
Dente porcelanizado.
Seu sorriso é manchete.

Momento eternizado
na notícia que voa e ecoa:
A velha sobreviveu a mais uma noite.

A velha agora torce.
Bandeira desfraldada
de um clube esmaecido
nas folhas amareladas.
Memórias rotas
do país do futebol.

A velha e a praça
trocam o lead
em noite comovente.
Vagam vazias, sem almas.
São espectros de um tempo
em que a praça era palco
dos sonhos da velha.

A lua cheia incendeia
outra vez a praça.
Traz o amarelo
de um ouro distante e fugaz
como a prata de tantas jornadas.

A velha estende a mão
e puxa para si o cobertor.
Histórias de outras vidas,
páginas encardidas
de facciosos jornais
e tendenciosas revistas.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Blog Blue

De que tamanho é este mar
que me conduz?
Quarenta e nove vezes
maior que a lua?!
Ou seria apenas
do costado de uma rua?
Uma avenida, uma cidade,
um pequeno país da América Central!

Estou sentado
numa casa que voa.
Não tenho parada certa
nem caminho predileto.
Sou do grupo dos blogblues.
Não tenho idade e não sei
o rumo deste mundo silencioso.

Respostas me chegam
num contador mágico
que narram, matematicamente,
em frios números
que, teletantos, acessaram
minhas poesias.
E outros tantos navegaram
nas asas dos meus encantos.

A blogsfera pode ser
maior que o Oceano Atlântico
e o transatlântico que nos transporta,
pode ser imenso como o Pacífico.
E não há ciência
que explique a transposição dos mares.

Vai daí de Portugal
tu que te escondes Trás os Montes
e diga-me lá se alguma benzedeira
do Algarves, sabe o segredo deste navegar.

Fale-me de Londres,
repórter das imagens,
se alguma luz azul,
como a que guarda a minha porta,
iluminou o fog da rainha.

Você moça dos olhos rasgados,
tamancos coloridos,
que corta as Muralhas da China,
dize-me por todas as bandeiras rubras
se pelo menos o lume de alguma borboleta
pousou na Praça da Paz Celestial.

Um blogspot cabe num pote.
E viaja no mundo como
meu pai e meu tio
que contavam postes
pra medir o caminhar.

A blogsfera não tem dimensão.
Pode girar somente no planeta Terra,
mas também pode alçar voo
rumo ao espaço sideral.
E só mesmo alguém que esteja lá
na dimensão silenciosa,
para entender este desejo blue
de lhes contar que tenho sonhos azuis...
Somente estes podem postar comentários
no idioma dos seres que habitam as estrelas.