quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Então é Natal


Então ela embaralha os cartões de Natal
como se a vida fosse um jogo.
Quer escolher uma Dama e um Rei.
Sentimentos do mundo.
Desejos próprios.
Não sabe o que fazer com as lágrimas
que dilaceram seu coração.
Marcas profundas da saudade
de seus ausentes, de seus distantes.

Renasceu o menino Deus
em todos os lugares.
Gostaria de poder dançar
mas permanece estática.
As renas da existência
estão famintas e cansadas.
Mas está contente:
Os sonhos de todas as crianças
serão realizados.
Ela abre um sorriso e pensa nos nordestinos
que receberão seus barquinhos à vela.
Lembra dos africanos com seus lap-tops
e bonecas brancas.
Nos favelados com suas bikes motorizadas.
E em todos os lares com ceias fartas.
Recorda da sua infância miserável,
quando nenhuma encomenda chegou,
e releva a pouca sorte:
Com tantos pedidos prioritários
faltou tempo e espaço na bagagem.

Camarada Nicolau!
Agora que ela cresceu,
já sabe que as bonecas lindas
sempre estiveram guardadas
em si mesma.

Neste Natal, além da paz,
sonha receber um abraço forte,
um beijo molhado,
O calor humano dos seus ausentes.
Espera que aqueles olhinhos de toda a parte
fiquem arregalados com os seus regalos.

Ou ainda que os meninos de pouca sorte,
possam sobreviver a muitos Natais
até compreenderem que todos os seus presentes
sempre estiveram guardados
dentro do próprio peito.

Então ela embaralha os cartões de Natal
como se a vida fosse só um jogo.
E já não sabe o que fazer com as lágrimas.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Podemos criar o que quisermos, podemos ver tudo, podemos ser.
    Precisamos olhar para dentro de nós e isso é difícil, pois somos humanos, frágeis egoistas. Eu sempre digo que a felicidade esta ao nosso lado, porém a nossa preguiça de sermos menos óbvios não nos permite sentí-la.
    Abraços.

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