segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Bolo de Barro

Te conto, mas não me pergunte,
como é que eu sei desta história.
A fome te engole por dentro
e tem um apetite voraz.
Te come as paredes do estômago
e toma o teu suco gástrico.
Queima as entranhas.
Apaga os sonhos.
Derruba o destino.
A fome te transforma
em homem de trapo.
Que come bolo de barro.
Engole sapo.
Toma água da chuva.
Sorri da mulher com chapéu.
Acha graça do sol e da lua.
O homem da rua não chora.
Não há desatino maior que aflore.
Não há tristeza que supere
a fome de todo dia.

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. A fome de comida;
    A fome de afeto;
    A fome educação;
    A fome de moradia;
    A fome de verdade;

    Todas são apenas superadas pelo alimento da demagogia.

    Abraços.

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  3. Eu disse que não explicaria. A fome não tem explicação mesmo. Mas dói. E nesse momento um monte de gente sem o café da manhã, não vai almoçar. E também não vai jantar. Este monte chega aos milhares no mundo inteiro. Se meu poema fosse mágico, capaz de modificar esta realidade macabra, seria uma festa. Mas o meu poema são pobres versos, repletos de fome.

    Geraldo Ferreira (o autor)

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  4. A mágica amigo estar em fazer um poema tão belo quanto esse.

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  5. Quem nunca passou fome não pode avaliar a dor e o desespero de um ser humano faminto. O seu belíssimo poema faz um retrato perfeito desse sofrimento e traduz um vigoroso alerta para que haja mais justiça social no mundo. Parabens!
    Adonis Karan

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