terça-feira, 23 de junho de 2009

O encontro das águas

Um risco negro corta a terra dos manauaras.
Um mar imenso de águas pretas avança pro longe
e quanto mais se invade os seus domínios
mais o distante foge da gente.
E sem que se achem as barrancas da floresta,
uma outra barreira surge inesperada a olhos desatentos.
O encontro das águas coloca de um lado o Rio Solimões
de leito rubro e profundezas geladas.
Do outro as marés escuras do Rio Negro de tucunarés e dourados,
onde habita Iara, a mãe d’água, sereia dos reinos fluviais.
A magia dos pajés deita os gigantes, lado a lado,
por dezesseis distâncias, sem que se misturem seus destinos.
Só quando o Solimões engole o Negro e tudo vira Amazonas,
num só leito, um só braço, caminha volumoso,
na sua vocação de rio mar.


Na foz do mais caudaloso rio
tem novo encontro das águas.
A pororoca se enrosca no embate
do mar doce que tenta quebrar
a salinidade oceânica.
É vermelho cruzando azul.
É azul avermelhando em lastro.
É o enredo das festas da tribo manauara,
redesenhado com as tintas fortes da natureza.
É Boi Caprichoso anil.
É Boi Garantido rubro.
É coração de boi que não se pode matar.
É o encontro diário das águas,
sacudindo lendas, desvendando crenças,
reinventando mistérios.
É Deus amarrando num laço tênue, a vida terrena.
É o Criador Caprichoso,
Garantido por esses milagres das águas.

5 comentários:

  1. Manaus é surpreendente. Uma cidade moderna que divide espaço com com a floresta e os rios Negro e Solimões. Ao mesmo tempo que ostenta prédios modernos e belas mansões, como em toda grande cidade, convive com o contraste de algumas favelas e palafitas. Mas o povo da floresta é quem dá o traço marcante à cidade: Casas flutuantes e a criação de tambaquis e tucunarés, em tanques também flutuantes, é o mais emblemático desenvolvimento sustentável. É indescritível as casas coloridas às margens dos rios. O "encontro das águas" é outro fenômeno encantado e encantador. A terra dos manauaras é deslumbrante. É terra de pajés.Portanto, é preciso respeitar suas terras, suas águas e sua gente.
    Geraldo Ferreira

    ResponderExcluir
  2. Que maravilha! Como estou contente por você estar aproveitando sua estadia nesta terra tão diferente da nossa. Fique mais um tempo aí, quanto você puder, para poder desfrutar ainda mais dessa diversidade e criar outros poemas tão inspirados como esse. Adorei! Tanto o poema quanto saber do seu encanto pela viagem! Carpe diem! Um beijo, Adriana

    ResponderExcluir
  3. Geraldo querido,
    É uma grande alegria perceber que você está feliz, conhecendo a diversidade do nosso Brasil e ainda encontrando momentos para fazer belos poemas.
    Beijo carinhoso,
    Alice

    ResponderExcluir
  4. Caro Geraldo
    Seu lindo poema me fez viajar de volta ao Amazonas, revendo o fascinante encontro das águas e a floresta amazônica, pulmão do mundo, onde, certa vez, me perdi.
    Sua sensibilidade descrevendo com lirismo uma das maravilhas do universo é fascinante.
    Parabéns!
    Adonis Karan

    ResponderExcluir
  5. Oi Geraldo tudo bem? Espero que sim!
    Que bom que está aproveitando as férias de uma ótima forma. Sempre bom estarmos em lugares diferentes com culturas, pessoas e infinidades de coisas curiosas.
    E pensar que Manaus não surpreenderia!

    Grande abraço, estamos com saudades!
    Beijos
    Bia

    ResponderExcluir