segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Cedo tarde ainda


Não te disse ainda
Rogo em não falar
Tenho que dizer
Não vai demorar
Nosso negócio
Vai se acabar

Tenho pressa cedo
Tardo em terminar
Nosso negócio vai se negoçar
Tenho medo tarde
Cedo em anunciar
A distância é próxima
Fica em Lumiar
A estrada é longa
Logo de depois
Que fica bem antes
Do entardecer
Se anoitecer
Vou desembestar
Na porta do tempo
Teimo em não fechar
Se venta na brisa
Me embrenho na mata
Se cedo ou tarde
Vou desengonçar

Não te disse ainda
Rogo em não falar
Tenho que dizer
Não vai demorar
Nosso negócio
Vai se acabar

Geraldo Ferreira de Lima – o poeta DAvida

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Ver de azul


Mangueira frondosa do quintal da minha casa
Que me doa sombra
Peneira-me a chuva
Baila a dança da brisa
Uiva a ventania
Adoça-me a boca
om os rebentos teus.

Resenheira do cantar dos sabiás.
Aninheira dos gaturamas
bem-te-vis, sanhaços, gavião-rei!

Quanto tempo, ainda, resistirás,
aos caçadores de sombras?
Já lá se foram dois dos seus bravos guardiões
Pastores de pelos
Nem coube apelo
Aos teus pés...
Recordas?
Passageiros da nossa agonia.

Tua orquestra sinfônica
De todo santo dia
Faz-nos eternos
em concertos da sustentável natureza.
Mesmo de pé trocado
A cor da moda
É o azul princesa.
Na tripa da feira
Teus galhos em voga
Em cor sobre tom.

A tua lua pintada
O teu sol desenhado
A casa de telhado tosco
Tudo é azul
Só tua imponência é verde!
Dever de ver
De ver o verde
Dever de verde
Verde turquesa
Azul nobreza
Por nunca se encolher
na mais torpe tempestade.
Nunca recolher a tua sombra
na escaldante realidade.
Nunca esmorecer e deixar de florescer,
em teu jardim de altar.

Se em breve encanto
Mangueira do quintal da minha vida
Um sabiá chorão
te denunciar a altivez.
Não liga!
Faz aniversário!
Passarinhos não cantam bonaparte!

E sem talvez...
Nenhuma outra mangueira
tem sombra nobre,
como a que namoro
no quintal da minha casa.

Ver de azulGeraldo Ferreira de Lima – o poeta DAvida

 
Ver de azul

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Poeme-se


Penso que um soneto
pode tratar enxaqueca,
bursite e cistite.
Um verso,
o anverso da lucidez.

Uma quadra,
bronquite e asma.
Um terceto,
pode acabar com mania.

Um poema de Drummond
pode cuidar do pulmão.
Um Camões também,
além do coração.

Poeme-se!
Uma vez por semana
Um verso ao café
Um poema inteiro ao jantar
Vai te deixar com o corpo sereno
e a alma em curso.

 

Geraldo Ferreira de Lima - o poeta DAvida

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Soialara


O Viramundo
 Esse imundo vagabundo
Fura o telefone de lata
 E do ninho para a glória
Lança o desafio;

Quero que a nobre ciência
 Invente com a máxima urgência
Um transportador de tempestade

Um aeroviável
Que sugue os nimbos de chuva
E os descarregue
Nas bocas secas sem água

Quero ver o doutor inventador
Deitar enxurrada
Nas cacimbas do Nordeste
Nas cabeceiras paulistanas
Nos leitos sem colchão d'agua

O Viramundo
Esse cabra sem rumo
Um fazedor de querela
Arranca do seu estilingue
Zune uma avoadeira
Desinventa o inventor.

Geraldo Ferreira de Lima - o poeta DAvidaSoialara

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Porta retrato


Porta retrato garrafa
Não aprisiona o fotografado
Ponha-me  no vasilhame de vinagre
Se quiser, coloque azeite.
E já fico temperado.

Retrato retrata a vida.
Não é a própria lida.
Se me coloca e ironiza.
Não ligo!
Sou gênio, pronto!
Já sei contar até dez.
Faço conta de mais e de menos.
Sei quem descobriu o Brasil!

Se na garrafa pudesse.
De lá faria o meu observatório.
E estaria protegido até de maremoto.
Mande essa mensagem de mim.

Se me encontrarem um dia.
Sendo mulher formosa.
Eu juro amor eterno.
E se gostar de poesia.
Eu lhe prometo um soneto,
se me tirar do sono.