terça-feira, 14 de abril de 2009

Para fazer poesia

Eu queria ser um poeta português
pra fazer verso como se fizesse pão francês,
uísque escocês,
vinho italiano.

No emprego da palavra
possuísse o poder de sedução
da mulher que dança.
A força do atleta no arranque.
Pudesse sentir a dor da árvore
no corte do machado.

Queria fazer versos
como se vivesse em Lisboa,
partindo para desbravar mares
e conquistar terras brasis,
em rotas orientais.

Produzisse versos
sabor de goiabada com queijo
e cheiro de chocolate.
Que tivessem o ritmo de samba com tango
e o gingado de um xaxado.

Conceber a poesia
com a alma
das rendeiras do Algarve,
pois elas são benzedeiras...
e acabam nos desejando o Céu.

Anseio por estrofes fortes,
encanto das raparigas,
deslumbramento dos homens pobres,
transformados em insones
senhores de botequim.

E a embriaguez
do poema
fizesse voar as garças.
Que, às vezes, são como anjos:
pousam sua majestade,
em lodo de rio morto.

Um comentário:

  1. Às vezes te vejo como um poeta luso a navegar pelo Tejo, percorrendo as aldeias, colhendo as frutas e se emocionando com as flores no prado. Mas vejo que és, sobretudo, um poeta universal e as emoções te embriagam como neste teu expressivo poema:
    "...E a embriaguez do poema/fizesse voar as garças. Que, às vezes, são como anjos: pousam sua majestade, em lodo de rio morto." Lindo! Que belas imagens, meu amigo!
    Beijos, Alice

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