quarta-feira, 10 de junho de 2009

Matriarca

Sabe, mãe?
Não deu ainda para
secar todas as lágrimas
da infância.
Mas já não dói a fome
de alguns dias do passado.
E a vida deu um salto
sob a sua conduta magistral.
Hoje, cá estou adulto,
carente de seu colo da infância.

A chuva não goteja mais do nosso telhado.
Nem desbarrancam mais as nossas casas.
Os nossos caminhos já não são de lama
e os nossos tanques não são mais as pedras de um rio.

Recordas as chuvas de verão?
Águas pesadas que ameaçavam
levar todos os sonhos morro abaixo.
Gente e casas desmoronaram em 1966.

Foste estaca da resistência.
Sob a sua guarda cresceram filhos,
netos e bisnetos.

As surras, todas por algum motivo justo,
doem menos que as chibatas silenciosas da existência.
E agora, nem nos fazem falta os abraços e os beijos
que não aprendeste a nos dar.

Pássaros bicam passarinhos.
Cachorros mordem os filhotes.
Tigresas mostram as presas
Cuidar com entrega deve doer na alma.

Agora não precisas mais enganar a fome
com um tanto de café e um cigarro
para sobrar o alimento aos seus pequenos.

Pedir emprestado um caneco de feijão,
um quilo de açúcar, um pouco de arroz.
Fazer comidinha de barro é o nosso papel.

Sabe, mãe?
Hoje penso ter crescido o suficiente,
para entender a vida.
Mas no entanto, guardo só um pouco:
A dor que sinto vem de longe.
Nosso ontem modificou nosso amanhã.
E o segredo é viver intensamente o hoje,
como se não houvesse amanhã.

2 comentários:

  1. Grande poeta, poema bonito e triste ao mesmo tempo... Ainda mais triste, porque leio hoje na condição de pai, que já sabe exatamente o valor e a importância de se alimentar o filho não só de pão, mas de tudo que seja de utilidade nesse mundo (muitas vezes) cão. E que vitorioso é este personagem que, depois de tantas provações na infância e juventude, ainda se sensibiliza e reconhece a vida como prova de que não perdeu a ternura. Que lição!!! Abraço, Sergio

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  2. Sabe geraldo neste teu poema, que pra mim é muito mais que isto, é como ver um filme em estive presente por muito tempo, quem sabe estive pelas pedras do mesmo rio, quem sabe brincando e fazendo casinha de lama, mais estava ali pertinho, quem sabe eu já apostava em te ver crescer, voce já é um vitorioso e ainda vais ter muita vitorias . beijos e beijos

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