quarta-feira, 10 de junho de 2009

Janelas da Cehab

De onde estou, posso enxergar o mundo inteiro,
sem que me percebam.
Descerro os olhos da casa e vislumbro os passantes
que rabiscam a vida devagar.
Alguns correm, outros apertam o passo,
são circunstantes que desenham a pressa dos dominantes.
Como diria Carlos Drummond de Andrade:
soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Quebrando o ritmo frenético, alguns meninos
batem bola na esquina, treinando a jogada genial,
que nos dará mais um título mundial,
em alguma próxima disputa de futebol.
Articulam nossa alegria futura.
Uns senhores jogam damas na mesa de pedra,
calculam circunspetos os segredos do envolvimento humano.
Vejo a senhora que retorna da feira, sobraçando o alimento do ninho
que os parcos recursos lhe permitem comprar.
Também posso ver alguns poucos desafortunados,
deitando-se com a tarde, sob a marquise dos supermercados,
no cantinho que se faça mais aconchegante.
De lá observam o repique de luzes que apagam e se acendem,
como árvores do faz-de-conta dos incautos.
Quem sabe o destino não lhes reserva um dia,
a possibilidade de ocupar o lado de dentro das janelas.
Do meu observatório, vejo a vida que se abre em leque e me pergunto
se não vale a pena tentar o máximo que nos seja possível,
mais e mais, o quanto de muito mais for permissível,
abrir aos milhares,
as janelas da Cehab.

Um comentário:

  1. Adorei, muito linda! Mais uma vez desejo boas férias e aproveite bastante. Um beijo, Adriana

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